5/17/2008

FILOSOFIA 1

Iracema Macedo in Kriterion: Revista de Filosofia
Print ISSN 0100-512X
Kriterion vol.46 no.112 Belo Horizonte Dec. 2005, pp. 283-292.


"Nietzsche apresenta, no item 7 do ensaio Richard Wagner em Bayreuth, uma releitura do mito da caverna de Platão. Para ele, é como se a sociedade moderna estivesse envolvida pelas sombras, pelos fantoches, pela hipocrisia e mentira dos homens aprisionados na caverna. O artista seria então um indivíduo superior que teria acesso à verdade, à luz, à realidade e voltaria amorosamente ao subterrâneo para tentar libertar seus companheiros. "

ENTRANHA 2 Rua Augusta...

O prédio que habito é vetusto, dizem-no mesmo Pombalino e, quer goste, quer não, nele vivem baratas. Baratas, pronto. Não no meu apartamento, é verdade, pois os quatro gatos que nele também moram não as tolerariam mas, no prédio, elas, as baratas, existem: nas traves mestras, nos buracos que ninguém vê, nas saias dos fantasmas. Baratas, insectos enormes, negros e que, sujeitos à repentina luz correm desabrigados sem que se adivinhe se em frente, se para os lados ou ascendem às nuvens, tal a rapidez da descolagem. Baratas voadoras, terror absoluto dos que as admiram – pela sua proverbial resistência – mas não as querem para companhia.
Isto a propósito da barata, a do terceiro andar.
Não, não era uma barata, não pertencia à espécie vulgar das baratas, não possuía os mesmos interesses que as demais nem idêntico "pedigree".
Não.
O que vi, deslocando-se lenta e majestosa, pesada e solene, nem era uma rainha das baratas mas apenas a imperatriz negra do império do baratedo.
Velha, gasta, gigantesca – perdão, grandiosa – arrastava com a solenidade das ocasiões únicas o seu negro corpo – coberto por especial manto? - no tapete cinza do terceiro direito. E só. Sim, face a tal sumidade, o que mais admirava era a sua solidão no deserto do patamar. Sua real imperabarateza saia, sem guarda-costas nem segurança. Assim E lá ia, pernas para a frente, pernas para trás e eu, crente que não olha de frente o deus que o agracia, desviei pudico o olhar, tímido na sua presença, enquanto ela porventura perneava para o amante, escondido algures no tapete vizinho e sequioso daquele chegada. Um general barato? Ou magala bafejado pela baraturura imperial, como outrora – consta – os militares de Catarina, a russa?
Desci a escada no maior silêncio, metido nos meus descaídos passos, eu, um mero inquilino do quinto esquerdo.

5/16/2008

TEATRO 2 "CASEMOS!" pelo TEATRO da UITI (Teatro Universitário da Universidade Internacional da Terceira Idade de Lisboa)

A peça estreia do Teatro da UITI "Casemos", baseada nas personagens da Commedia dell' Arte, encenada por mim, ante-estreou hoje na Mostra de Teatro 2008, organização da Junta de Freguesia do Lumiar, na sala da Academia Musical 1º de Junho, em Lisboa.
Casaram dezoito espectadores (um par de nubentes duas vezes). D. Albertina Marques foi a noiva do Grupo em serviço aos desamparados de par.
A Junta ofereceu ao Teatro da UITI uma estatueta comemorativa.

TEATRO 3 "A Perca" nos "Anos Sessenta" vista por...

A "A Perca", na sua segunda encenação pelo autor, exibiu-se ontem no bar "Anos Sessenta", na Mouraria, interpretada por Margarida Diogo e António Craveiro.
A sessão, para um numeroso grupo dos seus frequentadores habituais, realizada à porta fechada e promovida pela Teresa Palma Fernandes foi muito aplaudida. O autor/encenador assistiu (sentindo-se entretanto "muito" autor/encenador.)

5/14/2008

ENTRANHA 3 Rua Augusta... (5)

Retrato de Portugal na Rua Augusta
D. Rosa, vedeta que lá fora se incensa, canta à esmola porque no seu país ninguém a contrata. (E é ela a mais pura world-music singer portuguesa)
A criança que, aos quatro anos alguém pôs na rua, enquanto alguém colhia o bom metal, hoje adolescente, assim continua. Formação? Serve os que formam e ganham à bitola de Bruxelas.
- Está a fazer o dele!
Dizia um PSP ao escrevinhador nauseado desta crónica, o qual lhe chamava a atenção para o descalabro, era o ano da graça de 95 e decretava o primeiro de então a paixão pela educação.
A sem-abrigo da porta da Lisbonense dorme o resto do sono sentada num banco.
Os bancos, esses mesmos que desapareceram da transversal de Santa Justa, para que os pedintes os não usassem (e a freguesia dos Anjos fez o mesmo aos assentos que lhe rodeavam a igreja, pois neles sentavam os que comem na “sopa dos pobres”, mesmo ali ao lado)
Os canteiros das plantas ornamentais confundidos com lixeira e as flores entre cartões e coca-colas.
Os polícias que, ora aparecem aos magotes, ora ninguém os vê, e assim a indústria dos cãezinhos de cesto na boca, para gáudio de quem os explora e tortura, regista dividendos e maus exemplos (E nem uma só associação animal se pronuncie sobre o negócio)
Portugal, e estas suas élites: até quando?

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